Shinchou Yuusha é bom mesmo?
Um dos destaques da
temporada passada, e que deve voltar em breve com novos episódios, Kono Yuusha
Tsue Kuse ni Shinchou Sugiru, não apenas possui um título enorme (e que
curiosamente serve também como uma pequena sinopse da história, pois a tradução
seria “Herói cauteloso: o herói é suporpoderoso, mas extremamente cauteloso),
como também conquistou uma popularidade enorme entre os fãs de anime, sendo tido
por muitos como a obra que renovou o fôlego do gênero isekai (animes de
fantasia cujos protagonistas são transportados para outro mundo).
Mas, então, qual é a
desse anime?
SINOPSE
Bem, Shinchou Yuusha é
uma adaptação da light novel de mesmo
nome, que traz pro público uma comédia shonen, a qual — não se pode negar —
garante mesmo muitas risadas.
Nela, somos apresentado
a Rista, uma deusa iniciante com habilidades de cura, à qual é dada a missão de
salvar o mundo de Gaeabrande. Como Gaeabrande é um mundo de Classe-S,
presume-se que o desafio que ela tem pela frente é enorme, principalmente dada
a sua falta de experiência. Ela precisa selecionar um herói dos mais
qualificados para dar conta, e é o que acontece quando ela escolhe Seiya Ryuguin.
Os atributos dele são muito acima do esperado para o seu nível, algo realmente
impressionante, e ele só continuará a surpreender em força e superação ao longo
de cada episódio. Seiya só tem um problema: ...ele é ridiculamente prevenido. E
quando eu digo ridiculamente prevenido, é pra você levar a sério o
“ridiculamente”...
É alguém que não quer
nem mesmo saber de ir pôr os pés em Gaeabrande antes de treinar e aumentar seu
nível... pior, ele é alguém que usa suas técnicas mais poderosas mesmo contra
os inimigos mais indefesos (pra quem manja de Ragnarok Online: ele seria do
tipo capaz de dar asura em porings), que mata seus inimigos 100 vezes pra
garantir que nada vai dar errado! Que
quer comprar uma armadura, outra armadura reserva e uma terceira, reserva pra
reserva... Ele é insano de um jeito... bem, insano mesmo...
Seus excessos com a
precaução talvez só sejam superados pelos seus excessos com os treinamentos.
Junte isso com o fato de que ele já possui atributos altíssimos e o que temos é
um dos personagens mais overpower da
história.
E agora que já sabemos
um pouquinho do que se trata a trama e já fomos apresentados aos protagonistas,
podemos nos perguntar: mas Kono Yuusha Tsue Kuse ni Shinchou Sugiru é isso tudo
mesmo que vem sendo dito e entusiasmando o pessoal?
...Bem, sim e não.
Vamos fazer uma análise do anime para ver melhor onde chegamos. Lembrando que,
apesar de eu dar argumentos para cada uma das minhas colocações e de tentar ser
a pessoa mais imparcial possível, essa é, obviamente, a minha opinião e,
portanto, nada mais do que a minha opinião. Não se ofenda caso você seja um fã
que acredita que a obra está acima de todas as críticas, porque nenhuma está realmente.
O anime tem pontos
positivos, sem dúvida. Não à toa, ele me entreteve, me manteve interessada ao
longo dos seus 12 episódios, que passaram muito rápido, e com boas gargalhadas.
Também preciso fazer
uma ressalva aqui: muitas das coisas que me incomodaram ao longo dos capítulos
foram mais bem esclarecidas — e, assim, apaziguadas — depois dos dois últimos
episódios. É sério, gente, os dois últimos episódios são os melhores de toda a
temporada. O que é algo raro, aliás, já que geralmente o ápice se encontra um
pouco atrás, entre o meio e o fim. Portanto, já adianto: vale SIM a pena
assistir ao anime inteiro! Assistam, não desistam no meio do caminho!
O QUE FUNCIONA E O QUE NÃO FUNCIONA
Agora, para começar, o
próprio protagonista, Seiya, é capaz de trazer bons e maus momentos. Apesar da
posição que ele ocupa no anime e de ser invocado como herói, ele está muito
mais para um anti-herói do que para qualquer figura minimamente virtuosa. Sabe
esse personagem que nunca é o principal, mas que todos amamos exatamente por
terem algo dessa ambigüidade bem/mal dentro deles? Por exemplo, Ikki de
Cavaleiros do Zodíaco, Hiei de Yu Yu Hakusho, Vegeta de Dragon Ball, enfim...
são muitos. Seiya é como se fosse um deles, mas, em vez de estar na devida
posição de anti-herói, ocupa a função do próprio herói. Isso rende muitas
piadas, muitas situações divertidas, e é parte dessa desconstrução do isekai
tradicional... Mas... Seiya vai um pouco longe demais...
Acontece que, em alguns
momentos ele não se mostra mais do que um completo babaca, que não se importa
em destruir as moradias das pessoas, em humilhar crianças, em bater numa mulher
que não lhe oferece real ameaça, em tratar a todos ao seu redor de uma maneira
desdenhosa, tudo simplesmente porque... bem, porque esse é o jeitão dele, uma
pessoa que não tem outra preocupação além da de treinar e ser a mais poderosa.
E, sim, você pode dizer: no decorrer da série ele demonstra alguma preocupação
para com os demais. Mas é sempre em momentos absolutamente pontuais, algo
limitado apenas às situações mais críticas, e ainda com aquela frieza de fazer
o mínimo possível pelo bem dos outros... o que, infelizmente, não o impede de ser
aclamado e admirado por isso. Como eu disse, nos episódios finais entendemos
melhor seu excesso de precaução, mas isso não justifica muitos de seus
comportamentos ao longo do anime. O que era piada no começo vai se tornando
incômodo. Ele não evolui, não melhora... para aturá-lo, você tem que ser do
tipo que se contenta com as menores e mais insignificantes migalhas afetivas.
Além do mais, o overpower
dele é overpower demais! Apenas uma batalha durante todos os 12 episódios
oferece alguma emoção, e, ainda assim, bem, não é lá a emoção que esperamos
encontrar nesse gênero. Há uma cansativa certeza de que Seiya derrotará todos
os seus adversários.
Em Mob Psycho, por
exemplo, o overpower do Shigeo, apesar de destruidor, não era tão overpower
assim, uma vez que ele tinha conflitos internos, pessoais, conflitos
relacionados com o próprio poder, de não querer ser determinado por ele,
enfim... Em Dragon Ball, os guerreiros Z são overpower, mas, de modo geral, os
vilões, conforme se renovam, apresentam-se muito mais fortes do que os
protagonistas. Aqui não, o nosso protagonista é de um poder acima de qualquer
causa, ele não tem conflitos com sua força, acabando com batalhas promissores
num piscar de olhos... e, pior, a coisa não para por aí! Mesmo o que deveria
ser a sua desvantagem, ser superprecavido, no final das contas, adivinhem: ...é
uma baita vantagem! Por ser assim, ele está sempre um passo à frente, pois
todas as possibilidades de erros e falhas foram antecipadamente calculadas por
ele.
E tem mais! Ele é
overpower também na vida, ele é o lindo, o gostosão, o que faz todas as deusas
se apaixonarem... E, como numa boa propaganda da Polishop, não para por aí, até
como crafter ele é apelão, sempre criando novas armas, armas precisas, que são
capazes de danificar mesmo aqueles antagonistas mais protegidos.
E a deusa Rista, bem,
ela é engraçada, divertida, a típica personagem meio atrapalhada, extrovertida,
um tanto insegura. Vê-la babando pelo Seiya pode até ser engraçado, não deixa
de ser uma inversão de papéis quando vemos a mulher interpretando a tarada.
Posso dizer que ela se tornou minha personagem favorita, pelo menos no núcleo
dos principais. Mas o fato de ela parecer mais preocupada com a gostosura do
Seiya do que com o mundo que precisa salvar, em alguns momentos..., não sei,
não... pode até ser coerente com a personagem, e, bem, mais para frente até
entendemos o porquê de Rista ter se apaixonado tão instantaneamente por ele,
mas... ainda assim, não cai bem.
E me desagrada a ideia
desse personagem altamente cobiçado que Seiya encarna, principalmente ele sendo
alguém que não parece disposto a respeitar ninguém. E, tá, tudo bem, algumas
deusas que, num primeiro momento, pareciam encantadas por ele, depois
demonstram ter outras razões, mas ainda há um exagero, algo um tanto forçado.
E aí eu não posso
deixar de falar do ecchi. Não, não é um dos animes mais apelativos que você
encontrará por aí, não tem tanto daquele fanservice incômodo e ângulos toscos que
só servem para mostrar calcinhas... mas ainda assim, o ecchi está presente
nessa obra, o que, no fim das contas, é um mais do mesmo para um anime tão reputado
por ser o desconstruidor do seu gênero... e apesar de não ser excessivo, alguns
momentos de ecchi não passam de puro assédio, o que me deixa ainda mais
desconfortável...
NO FINAL DAS CONTAS...
Como eu disse, os
últimos episódios explicam algumas das coisas que no princípio pareciam
desastrosas, mas explicam, não
justificam. Sem falar que a decisão de empurrar tudo para o final é um
problema. Afinal, o único conflito que Seiya já teve na vida só nos é
apresentado no penúltimo capítulo, o que não só é frustrante porque fomos
obrigados a lidar com um personagem tecnicamente perfeito do começo ao fim,
como também não o salva... afinal, esse tal conflito até foi um conflito algum
dia, não é mais... Esse conflito gerou nele uma resposta: ser superprecavido, o
que é uma marca, sem dúvida... mas, como eu disse antes, não é um defeito. É
até legal ver que Seiya está sempre treinando, que ele é determinado... mas
nada disso importa muito quando ele, sempre que se apresenta para as batalhas,
já está a quilômetros de vantagem em relação ao seu adversário. Até a evolução
dele nos treinamentos é fácil demais, o que dá a impressão de que ele nunca
evolui de verdade, pois ninguém jamais será páreo para ele, e, portanto, tanto
faz, ele vai vencer qualquer um mesmo.
Enfim, essas são as
minhas colocações, e está tudo bem que você não concorde com todas elas, claro,
é o seu direito. Mas, ainda assim, precisamos refletir um pouquinho, visto tudo
isso, sobre a real importância de Shinchou para o gênero dos isekais... é por
esse caminho que ele trilhará daqui em diante? Isso tudo o que ele apresenta é
mesmo uma desconstrução que nos leva a uma renovação... ou é só um mais do
mesmo disfarçado? Ele tem — ou tinha — potencial, sem dúvida... mas chegou a
explorá-lo?
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