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MADOROMI BARMAID, QUE MANGÁ MARAVILHOSO!

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Poucas coisas são tão mágicas nessa vida otaka quanto encontrar, assim, desse jeitinho quase que por acaso, sem querer, uma obra que te encanta e te traz ótimos momentos, deixando uma marca em você. Foi o que me aconteceu com a leitura do mangá Madoromi Barmaid, obra de Pao Hayakawa.

A proposta dele é simples, e talvez por conta disso a sinopse pareça pouco atrativa, afinal trata apenas de uma bartender que... bem, através dos seus coquetéis dá uma animada na vida das pessoas. Despretensioso? ...Não, não exatamente. Apesar da simplicidade da proposta, o que se consegue fazer a partir dela é de uma riqueza incrível.


SINOPSE

A história nos apresenta Yuko Tsukikawa, uma bartender que divide a casa com duas amigas e também bartenders, Kiho — que trabalha num hotel 5 estrelas — e Hyoko — conhecida pelas suas habilidades de flair bartending, aqueles malabarismos com garrafas e utensílios. Diferente delas, Yuko atende seus clientes de um jeito muito mais modesto e curioso, numa barraquinha ambulante, a qual ela está sempre movimentando de um canto para o outro em Tóquio. Assim, seus clientes se alternam bastante.

Embora a barraquinha confira uma apresentação singela para o seu trabalho, Yuko reúne todas as qualidades de uma bartender, as quais, como Kiho explicará, não tem a ver só com apresentação e técnica, mas também em entender o que seus clientes querem e necessitam para então lhes oferecer o drink certo.
E é aí que está a tônica das narrativas: Yuko está lá em seu barzinho móvel quando aparece um cliente, geralmente apreentando algum desgaste, ou dúvidas sobre si mesmo, dificuldades, tristezas, enfim, e pede alguma bebida. Aí a protagonista, através da sua sensibilidade e competência, entende qual o coquetel que pode ajudar a pessoa, seja através do sabor, do aroma, da apresentação ou mesmo da cor da bebida.

Só para dar um exemplo — se você quiser 0 de spoiler, ainda que o que eu vá dizer aqui seja só uma pontinha de uma das muitas histórias desse mangá, pule para o próximo parágrafo — em certo momento, um homem chega à barraquinha da nossa bartender e diz para ela que não consegue mais enxergar as cores do mundo, ou seja, que anda deprimido, tudo lhe parece preto e branco. Yuko é capaz de ajudá-lo a recuperar o colorido através de um coquetel de cereja, que o relembra da primavera e o seu alvorecer.

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UM MANGÁ DE COQUETÉIS PARA MUITO ALÉM DOS COQUETÉIS

A capacidade de transmitir sensibilidade e até mesmo empatia através de bebidas é uma coisa impressionante, eu, sinceramente, nunca acharia que algo assim poderia funcionar, muito menos que ela pudesse ser transmitida com tanta sinceridade. Eu particularmente não sou de beber, também não entendo nada de drinks, coquetéis, técnicas ou particularidades desse mundo de bartenders, mas nada disso é necessário para que se possa apreciar essa obra. Claro que se mixologia é um assunto que te interessa, então você tem aí um ingrediente a mais para apreciar o mangá... aliás, acho que se tiver a soma desse atrativo, sinceramente, talvez essa passe a ser uma das suas obras favoritas, mas a questão é que isso não é um pré-requisito, Madoromi Bartender é bom por si só, pelas suas personagens, pelos conflitos, pela sensibilidade, pelas aprendizagens.
O que não quer dizer que essa temática de drinks e coquetéis não seja atrativa independente de qualquer coisa. Na verdade, mesmo que ela não seja a sua,  o encanto desse meio também é algo que nos afeta durante a leitura. É no mínimo interessante o fato de que a autora coloca todas as receitas no mangá. Afinal, são os ingredientes e medidas que a Yuko usou, isso cria um laço da história com o leitor, além de que acabamos aprendendo um pouco sobre cada técnica, seja de mexer, de chacoalhar, e ficamos sabendo até mesmo que o copo — sua forma — pode alterar o sabor de um drink. É, é um tanto gourmet, mas é típico desse universo, afinal, não estamos falando de uma vendedora de pinga barata, e nenhum personagem que aparece lá, aparece para se alcoolizar e esquecer os seus problemas, o que é algo muito legal. Legal porque nos mostra que esse meio pode ser saboreado sem maiores problemas, que pessoas podem apreciar uma bebida de forma saudável e tirar algum ganho real disso.

Outro ponto que acho fascinante é o papel de suas mulheres. Aliás, essa é uma história sobre três mulheres, todas numa profissão eminentemente dominada por homens! E outras personagens, também mulheres, e também importantes para a trama, aparecerão para reforçar essa ideia. E não é só isso, Yuko é admirada pelo seu trabalho, o que talvez seja o aspecto mais bonito de como as narrativas são construídas. Ela é respeitada igualmente por homens e mulheres. Mas acho especialmente interessante como algumas de suas clientes veem nela uma influência positiva pelo simples fato de ela ser uma mulher apaixonada pela sua profissão, dessas pessoas que têm amor pelo que fazem e que, por isso, fazem tão bem. Não há rivalidades baratas, nem mesquinharias estereotipadas, o bar móvel de Yuko — que a princípio nem nome tinha — é um refresco e um alívio para todos, que saem de lá renovados para retomar suas vidas.
Não se trata de uma obra problematizadora ou com viés político, mas através da natureza das suas personagens, das suas colocações e até mesmo da forma como lidam com seus problemas, podemos ver como questões importantes e muito verdadeiras são tratadas.


PARTE TÉCNICA

Além de tudo isso, a arte é maravilhosa! O traço da autora é dos mais elegantes, e é o traço necessário para conseguir expressar toda a delicadeza e finura que a obra exige. O uso das retículas me impressionou particularmente, afinal, claro, a estética e apresentação das bebidas é algo de forte apelo visual para o mangá, e há momentos em que ela consegue expressar isso mesmo através das retículas. Sem tirar o mérito das eventuais páginas coloridas, que embelezam ainda mais, mas mesmo no preto e branco a coisa funciona muito bem. Sem falar de como a técnica dela consegue exprimir com competência a dinâmica delicada dos movimentos de uma bartender, o chacoalhar, o mexer, enfim, tudo é muito fluido. E além de tudo, Pao Hayakawa é dessas desenhistas detalhistas, fazendo dos cenários um show à parte... quando Yuko precisa viajar para Hong Kong e encontrar um certo prédio... olha, o desenho do tal prédio... que arte caprichosa, gente, vocês precisam ver!

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Mas então esse mangá não tem defeitos, é isso? ...Na verdade, defeitos qualquer obra tem. Só que aqui eles são pequenos, detalhes, elementos que não prejudicam em nada a obra. Talvez o que eu possa citar seja apenas uma pequena facilitação conveniente que, em alguns momentos, dá as caras na história... estou falando daquelas coincidências improváveis, sabem?... coincidências fortes demais para serem totalmente engolidas. Mas são pouquíssimas as cenas que se utilizam desse artifício, tá? Pouquíssimas mesmo.
Outra observação — essa mais bobinha, reconheço, mas ainda assim... — é a respeito do título... Madoromi Barmaid significaria algo como A Barmaid Dorminhoca, e, sim, Yuko é meio dorminhoca, isso é mostrado algumas vezes ao longo do mangá, mas... tão poucas... E o fato de ela ser dorminhoca não tem nenhuma influência real sobre o seu trabalho... se não estou enganada, só uma vez um dos seus clientes mencionou o cochilo dela... O que me leva a pensar: ...não tinha nada melhor para pôr de título? Algo que resumisse melhor a ideia da obra, ou que utilizasse um elemento mais importante dela... Sei lá...


PERSONAGENS E CONCLUSÃO

Bem, seja como for, Yuko é uma personagem carismática, tímida, de poucas palavras, mas de muita eficiência em ouvir e entender as pessoas, entender o que elas sentem e o que precisam. Kiho, sua amiga, é a dona da casa onde moram, é a responsável, a madura, a que organiza tudo. Hyoko é a doidinha, a que curte mais sair e paquerar do que levar as coisas a sério. Como se pode esperar, Kiho e Hyoko estão sempre discutindo. Ah, e tem o Bambu, claro... Bambu é um personagem muito fofo que vocês vão ter que ler para conhecer, OK?
A história ganhou um dorama, protagonizado pela Kiryuu Mai e dirigido pela Chihiro Ikeda, o qual, para ser sincera, ainda não assisti, mas pretendo fazer em algum momento, e quem sabe, quando o fizer, eu volte para falar um pouquinho sobre ele também.
Mas é isso, galera, fica aqui minha forte indicação para que vocês venham a conhecer esse mangá, que, infelizmente, ainda não foi lançado aqui no Brasil, mas que pode ser achado facilmente procurando no Google. Foi uma obra que me agradou muito, e que aproveitou um potencial que eu nem sabia que existia. 

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