Precisamos falar sobre Beastars (Resenha, Comprar Mangá e Download de Beasters)
O Anime Beastars é um dos melhores da atualidade!
Uma grata surpresa, para dizer o mínimo desse anime lançado na temporada de 2019. O Anime Beastars para o qual muitos não davam nada, ou que devido à temática colegial, slice of life, foi tomado como despretensioso, sem muito a acrescentar num primeiro momento. Não demora muito para que percebamos o nosso engano, o início do anime já nos choca, e o primeiro episódio logo deixa a impressão de que estamos diante de algo especial.
SINOPSE
Esse é um anime sobre uma sociedade, que não é (mas que poderia muito bem ser) a nossa, onde animais antropomórficos precisam conviver em harmonia e civilidade apesar de todas as suas diferenças, inclusive a de carnívoros x herbívoros. E é aí que está o grande ponto da trama, afinal os hábitos alimentares não são apenas uma particularidade, uma característica qualquer, os carnívoros precisam controlar todos os seus instintos predatórios, uma vez que nada pode ser mais grave e hediondo para essa sociedade do que os hábitos predatórios. E a primeira cena já nos joga um crime desses na cara, quando ainda nem estamos preparados para o que pode vir, Tem, uma alpaca é assassinado por algum colega de classe (supostamente) carnívoro.
Nesse cenário complicado e turbulento, vemos Legosi, um lobo cinzento (e, portanto, um carnívoro grande e assustador) se apaixonar por uma frágil, pequena e solitária coelha, Haru.
Mas Legosi não é só o que parece ser (e diga-se de passagem: ninguém aqui é). Apesar do ar ameaçador inerente à sua espécie, ele se mostra um personagem inseguro, muitas vezes frágil, com problemas de auto-estima, mas mais do que isso, desconfortável consigo mesmo, com sua condição predatória, com toda a força que ele possui e com os seus instintos, que estão lá, são reais, são ativados queira ele queira ou não, e com os quais ele passa a vida lutando contra, repreendendo-se até onde lhe é possível.
PRECONCEITO ABORDADO PELA SÉRIE
Beastars é um anime que vai falar sobre preconceito, sobre aparências, sobre a dificuldade em se construir uma sociedade saudável em decorrência as nossas diferenças. É curioso isso, porque a forma como a trama consegue exercer o seu senso crítico, como ela nos obriga a refletir sobre esses assuntos complexos, tudo isso é feito de uma forma tão natural, tão integrada à trama, sem didatismos, com personagens tão verdadeiros e bem construídos, que não nos é permitido cair numa dualidade barata e maniqueísta de bem contra o mal, nem nada. Pelo contrário, em Beastars todos têm os seus momentos gentis e os seus momentos questionáveis, até mesmo amáveis e repulsivos às vezes. E isso nos leva a uma primeira reflexão: tudo bem, o anime fala sobre preconceito... mas preconceito de quem contra quem?
Vi muita gente falando sobre o preconceito contra os carnívoros. E faz sentido, afinal, eles são os principais afetados, é a eles que cabe a tarefa quase cruel de reprimir suas naturezas e sufocar os seus instintos. Também aos carnívoros são dirigidos os olhares suspeitos, as acusações, enfim. Mas eu não estou totalmente convencida disso, e por um motivo: quem tem o poder de matar, quem, se quisesse, acabaria com toda a ordem social, são eles próprios, os carnívoros. Os carnívoros são, na verdade, os detentores do poder, eles é que aceitaram entrar num acordo pelo bem maior, mas, caso mudasse de ideia, é, aí já era tudo, adeus vida em harmonia, adeus inclusão e bem-estar comunitário.
Ah, mas os herbívoros não são coitadinhos, o personagem mais popular da escola, líder do clube de teatro é, afinal, um herbívoro, um alce, Louis. Os herbívoros têm problemas com os carnívoros (uns mais, outros menos), mas, mas os problemas deles, mesmo quando chegam ao extremismo do ódio, são, na verdade, reações ao poder que os carnívoros têm, à posição que esse poder é capaz de lhes colocar. Isso fica ainda mais claro no episódio que Legosi e seus colegas carnívoros visitam o mercado negro, o único lugar onde a carne é comercializada. Chega a ser incômodo ver a condição em que se encontram alguns herbívoros. É aí que está, todo o desassossego e todo o problema que os herbívoros têm contra os carnívoros podem ser enquadrados em duas categorias: 1) o medo, óbvio 2) e o complexo de inferioridade, como, inclusive, é o caso do citado Louis.
LEGOSI, LOUIS E HARU
Vamos ao nosso alce, então. Ele é o líder do grupo de teatro, o protagonista da peça, o queridinho das meninas, o bonitão, o imponente, cheio de pampa (menino pomposo!), ele é Louis, o antagonista do anime Beastars... que talvez não seja assim tão antagonista. Legosi, o lobo cinzento e assustador, é continuamente submisso ao alce, não só porque ele trabalha na equipe técnica do teatro, e portanto, recebe ordens dele, mas também porque os dois são polaridades opostas, mas... olha que coisa: os dois também são impressionantemente iguais. Como? Explico: enquanto Legosi é um carnívoro temível, Louis é um herbívoro, uma presa por natureza. MAS, ambos se sentem desconfortáveis em seus respectivos papéis, ambos lutam contra suas naturezas para buscarem ser algo contrário ao que as pessoas esperariam deles; Legosi é um lobo bom, até ingênuo, que quer proteger as pessoas, que detesta a si mesmo quando seu instinto aflora; Louis tenta ser poderoso, tenta compensar a condição de presa que a natureza lhe designou, faz de tudo (e com muito sucesso) para estar em posição de poder, para estar acima tanto de herbívoros quanto de carnívoros. Louis é orgulhoso de tudo o que se tornou, e pode parecer não mais do que um babaca arrogante num primeiro momento, tudo o que ele almeja é o título de Beastar, que é uma homenagem dada a alguém importante na sociedade e sua manutenção... só que nada nesse anime é tão simples assim.
A relação de Legosi e Louis é, assim, uma das coisas mais interessantes. Por um lado, o alce aparenta estar acima de tudo, é vaidoso, prepotente, mas, por outro, fica claro que ele se incomoda profundamente com alguém como o lobo cinzento, que despreza a própria força, que finge ser tão vulnerável quanto um herbívoro. Na verdade, Louis tem inveja. Ele gostaria de ter aquela força, gostaria que aquilo não fosse só aparência, que fosse tão real e concreto pra ele quanto é pra Legosi. Não é que eles tenham uma relação de ódio, ou de simples submissão, é uma relação ambígua, de momentos, de desenvolvimentos, que às vezes se intensifica, sim, mas que nunca se resume a isso.
Daí, chegamos a Haru, a coelha, que é a paixonite de Legosi, mas que é também o caso de Louis, e que além de tudo, por pouco não vira uma presa do lobo cinzento logo no primeiro capítulo..., sim! Ele quase a devora num primeiro momento, sucumbindo à sua primitividade, mas se encanta por ela quando a conhece. Mas não para por aí! Haru é também alguém que precisa enfrentar um bullying pesado na escola, por ter a reputação de dormir com qualquer um. Bom, você pode até pensar: ah, é só mais um triângulo amoroso cheio de personagens disfuncionais, OK, mas deixa eu te dizer, essa seria uma análise das mais rasteiras. O triângulo amoroso até serve para ajudar a desenvolver os personagens, mas em nenhum momento ele é o foco, ele é apenas um pano de fundo, e, nessa função, tem muito sucesso.
O slut-shaming que a coelha recebe é pesado, mas ela não é uma personagem passiva. Ela é alguém acostumada às maldades do mundo, a ser vista como uma coelhinha indefesa, a não ser levada a sério, sempre subestimada ou humilhada, e mesmo que ela nem sempre encontre as melhores maneiras de lidar com a situação, ela encontra, sim, força. Ela sabe que a qualquer momento sua fragilidade pode levá-la à morte, mas aceitar esse fato não a torna uma derrotada. Apesar da solidão, da incompreensão alheia, das relações superficiais, ela aprendeu a não abaixar a cabeça.
AMOR OU INSTINTO DE PREDADOR?
Além disso, é importante mencionar os sentimentos de Legosi a respeito de Haru. Eles são confusos não só porque a sociedade olharia com estranhamento para um relacionamento herbívoro x carnívoro (ainda mais com uma herbívora tão pequena), mas porque, bem, Haru a princípio deveria ser a comida de Legosi e não o amor dele. Aliás, por muito pouco não acontece mesmo de ela ser a comida do lobo. A cena inicial é forte, mostra os conflitos do carnívoro, como o instinto tenta mandar, como ele luta pra preserva a sua lucidez. Aliás, mais para frente, veremos o desenvolvimento do casal com os seus conflitos e sentimentos numa rima visual dessa cena que é de uma força impressionante, o poder que um simples momento tem e como ele sintetiza toda uma trajetória... Bem, devido a isso, o conflito interno e externo dos personagens, o próprio Legosi tem sérios problemas com seus sentimentos pela coelha, afinal, será que ele a ama ou será que ele a quer como presa? E se a ama, será que apesar do amor não é possível que um dia a fira?
Aí talvez esteja o momento mais bonito do anime Beastars, a sublimação de uma sensação instintiva num sentimento mais profundo, algo que não é simples, que vai se transformando conforme o personagem se descobre, e que nunca deixa de ser desafiador, na verdade.
PARTE TÉCNICA
Agora, saindo um pouquinho do enredo, vamos falar sobre os aspectos mais técnicos. Muita gente, principalmente fãs de anime, torce o nariz para produções em CGI. Agora, falemos a verdade, não tem cabimento quando se trata de Beastars. Quer dizer, lógico que podemos apontar pontos positivos e negativos, mas, no final, é preciso concordar que, no geral, a coisa aqui funcionou, e funcionou muito bem. Não adianta chegar com essa opinião enlatada e acabada: “Animações em 3D não funcionam com anime e pronto”. Olha, é necessária uma grande dose de teimosia para assistir Beastars e não achá-lo lindo, com personagens se utilizando de uma expressão corporal rara, dinâmica, expressiva, contribuindo para o ritmo, oferecendo uma estética maravilhosa, que dá uma ambientação tanto delicada quanto impactante quando necessário. Vá lá que talvez a expressividade facial, aqueles exageros típicos dos animes acabem sendo prejudicados, o que é algo para pensarmos, mas esse único ponto não pode desmerecer todos os demais. A cena em que Legosi está conversando com Louis (sobre um assunto banal) e a câmera focaliza sua mão, seus gestos, suas garras, mostrando o ponto de vista de Louis, a riqueza daquela animação, o ritmo dela, as impressões transmitidas, gente, aquilo é de uma felicidade impressionante. O opening em stop motion também é digno de nota, não só pela criatividade ou pela proposta diferenciada, como também por resumir muito bem a ideia central de um anime tão complexo... E é bonito pra caramba, convenhamos.
Cada episódio fecha com um gancho bastante convincente, que te arrasta de um episódio a outro numa sequência muito fácil de maratonar, principalmente porque todo o ritmo do anime é certeiro, nada é esticado, nada é espremido, tudo flui muito bem. E isso mesmo se sendo uma história com certa dose de monólogos interiores; mesmo neles conseguem imprimir um dinamismo, fazem com que interajam com o ambiente externo, ou com que “dialoguem” entre si.
Enfim, há toda uma soma de fatores que levam esse anime a ser um anime extraordinário, algo que se destaca não apenas por entreter, divertir, mas também por nos levar a reflexões profundas, reais, que dialogam diretamente conosco e a nossa sociedade. Algo que não seria tão poderoso caso os personagens fossem, bem, simplesmente pessoas normais; os animais são um recurso, uma alegoria que dá muito certo porque é muito bem explorada, desde os detalhes, os instintos, o papel de cada um, seus comportamentos, até os seus antropomorfismos emocionais, suas dúvidas, suas dificuldades em se adequarem, seus dilemas, suas inseguranças, ambições, etc.
O Anime Beastars é, portanto, um anime necessário, um anime que precisa ser assistido e admirado, mas principalmente discutido. Uma história sobre preconceitos, sobre aparências, sobre a sociedade e o que ela espera de nós e o quanto disso conflita com o nosso verdadeiro ser, sobre se somos o que pensamos ser hoje ou se somos o que poderemos vir a ser um dia.
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